sábado, 27 de abril de 2013


Sinto na essência das pequenas coisas o chamamento de uma vida plena, sem grandes aborrecimentos nem grandes voos.
Fecho os olhos e consigo sentir o tremor no corpo de tanta ansiedade, uma ansiedade de ouvir palavras perdidas pelo vento que não foram nem nunca serão ditas.
Consigo sentir o poder da palavra a embater contra a violenta força dos sentimentos, quero ver este choque tremendo e quero assistir a um desfecho trágico para a falta de coragem.
Não quero ficar para sempre prisoneira a pensamentos que não são meus, sou livre para sair de qualquer lugar a qualquer momento com um valente sorriso espelhado no rosto como um bruto de um diamante.
Quero comandar o meu corpo na direcção certa e certeira, não escolho atalhos para chegar mais rápido, prefiro chegar com calma e tranquilidade do que correr contra o que é certo.
É verdade sou assim, até podia não ser, mas desde o momento que dei o meu primeiro suspiro, o meu primeiro berro e abri pela primeira vez os olhos ao mundo, que sou desta forma.
Sou assim e aspiro freneticamente pela imortalidade da minha capacidade de ver o mundo à minha maneira. Aspiro pela imortalidade dos meus momentos, que apenas são momentos porque são meus e não de outra pessoa qualquer.
Estou viva e cheia de força. Estou aqui e agora, isso é mais do que suficiente para estar bem. Estou a escrever porque quero chegar lá, mas que lá?
Um lá distante e cheio de tropeços, um lá perto e cheio de mistérios. É certamente um lá que aguardará por mim, mais cedo ou mais tarde.
Quando lá chegar sei que caminharei rumo ao que sempre sonhei. Não tenho medo do fracasso, não tenho medo de cair, não tenho medo disto nem daquilo.
Sou um tema indefinido mas muito bem delineado, sou uma estrada longa mas segura, sou um porto vazio mas sempre com abrigo para quem de mim precisar.
Ana Silva

quinta-feira, 28 de março de 2013


O que será realmente a vida?
Eis uma questão tão simples de responder mas muito difícil de compreender. Já tentaram respirar o cheiro do mar e deixar que ele invada os vossos pensamentos, permitindo que ele acelere o bater do vosso coração?
 Já tentaram ser apenas aquilo que são, sem falsidades medíocres, sem sorrisos forçados, sem palavras que nada dizem, sem gestos forçados que apenas escondem os verdadeiros sentimentos da alma?
Quando conseguirem que tudo isto aconteça, eu própria apresento-lhes pessoalmente e calmamente a vida.
Deixem-me escrever aquilo que sinto, deixem-me ser apenas eu com os meus defeitos e as minhas qualidades, sou apenas aquilo que sou e não quero ser aquilo que outros idealizam. Sou famosa Não, tenho um cargo importante também Não, sou alvo de elogios vindo daqueles que esperava, também Não, mas querem saber melhor assim. Não espero nada disto porque também não quero ser forçada a mentir e a dar gargalhadas vindas do nada e direcionadas para o mais nada.
Quero apenas crescer enquanto anjo, quero aprender a voar para ser mais fácil um dia mais tarde, quero escrever e sentir na ponta dos meus dedos o bater acelerado do meu coração num fogo cruzado com a velocidade alucinante dos meus pensamentos.
Quero olhar e caminhar livremente no infinito, quero oferecer o meu sorriso em troca de nada, quero sentir a verdade das palavras ditas por bocas desconhecias ou até mesmo das conhecidas, quero ser eu, é difícil de compreender?
Quero pensar em ti todos os dias e amar-te como quando partiste da minha vida para encarar de frente a morte, quero pensar em ti pela manhã e ao anoitecer, quero pousar a cabeça na almofada e chorar por ti, deixa-me pensar em ti, entra nos meus sonhos e abraça-me toda a noite e fica assim por favor comigo, podes não dizer nada e sabes porquê? Porque consigo adivinhar os teus pensamentos.
Quero poder comandar a minha vida e não ser apenas uma figurante que decora um texto escrito por alguém que não seja eu. Quero, quero, quero e quero, será difícil de compreender? Esta ânsia de querer que me consome as estranhas, leva-me ao abismo da loucura.
Quero confrontar a mentira com a verdade e criar uma explosão terrível. Mas esperem, o que é a verdade?
Não sei, mas não faz mal. A vida mais tarde ou mais cedo vai-me sussurrar ao ouvido.

Ana Silva 

domingo, 17 de março de 2013


Escrever perspectivando a fusão do hoje e do amanhã é o meu maior desafio.
Escrever e sentir o tremor no corpo de quem não quer parar de escrever com medo de se esquecer das ideias é a minha maior meta.
Escrever com o coração na palma da minha mão sem medo de o deixar cair é a minha maior ilusão. Sentir a mão a doer de tanto escrever é o transcender das minhas próprias barreiras.
Escrever as minhas ideias, relatar os meus pensamentos, deixar fluir as minhas sensações, dar a conhecer a minha ânsia brutal de insatisfação é o meu sonho.
Conseguir apenas por palavras criar um cenário, com personagens vivas e sentidas, com cores ofuscantes e com um desfecho feliz é a minha maior prioridade.
Sentir que as palavras fazem sentido e espelham o seu verdadeiro significado, como o espelhar de um rosto puro e sincero na água mais límpida desta eternidade, é sem dúvida o meu maior anseio.
Querer dar às palavras a sua essência, usá-las e não desgastá-las como se fossem meros instrumentos nas nossas mãos é a minha maior batalha. Uma batalha travada com as maiores armas, uma batalha onde as rosas substituem o chumbo frio e doloroso, onde o vento a soprar de leve substituiu o som dos tiros certeiros e mortais, uma batalha cessada com o apertar de duas mãos e um abraço profundo e sincero lavado em lágrimas de alegria.
Escrever o descrever da sensação de voar sem nunca ter saído do lugar, conseguir por pequenas palavras descrever quem sou sem magia nem ilusão, conseguir gritar e dizer aquilo que quero e aquilo que não quero sem rodeios, é o maior desejo.
Conseguir escrever a maravilhosa mudança do dia para a noite, da luz para a escuridão, da alegria para a tristeza, da incerteza terrível para a mais firme certeza, é a minha maior ambição.
Conseguir manter a minha alucinante incerteza perante o dia de amanhã, manter a minha saudável loucura, brincar e rir de mim mesma, chorar de dor, gritar de entusiasmo é a minha maior certeza.
Escrever o hoje, perspectivando o desfecho de um amanhã e aguardar a resposta do depois, é a razão da minha luta.
Uma luta de hoje, do amanhã e de sempre. De um sempre desenhado com pontos de interrogação e contornado com pontos finais.

Ana Silva 

quinta-feira, 7 de março de 2013


Para muitos a escrita nada mais, nada menos é do que uma forma de visibilidade gratuita.
Para mim, não. A escrita é muito mais do que isso. É sentir sem pensar no amanhã, é libertar a alma do seu estado mais puro, é conseguir sair do meu coração e entrar directamente noutro provocando estragos profundos. 
É caminhar sem direcção, é voar nas asas da minha imaginação e superar-me a mim mesma, sem pensar no que os outros vão dizer. Escrever é sentir o cérebro a doer de tanta verdade, é querer o não querer, é nunca estar bem, nunca estar satisfeita e quieta.
Apaga, escreve, apaga, escreve. Risca, escreve, apaga, volta a alinhar. É isto mesmo a escrita, é a maior tentativa do ser humano, é conseguir escrever o incompreensível e tentar descobrir o compreensível, o mais fácil é sempre a tarefa mais difícil.
Escrever é deixar de lado, os vocabulários mais caros, que ninguém conhece, mas que é bonito. Esqueçam o bonito que não serve para nada, escrevam palavras baratas, mas escrevam com a alma.
Escrever é conseguir que o outro chore, porque consegue compreender e se rever em todas estas palavras, palavras que apenas são palavras, mas que acrescentando sensações, cheiros, cores, movimentos e pensamentos fazem deste texto um cenário vivo.
Escrever é conseguir retirar a capa que nos acompanha todos os dias, mas que ninguém dá por ela. Escrever é caminhar em frente sem medo de olhar para trás, é seguir a direcção que todos evitam com medo do erro.
Eu amo o erro, eu cresço com ele, eu aceito-o e tu?
Parem de pensar, parem de engenhar, parem de decorar um texto vicioso e malicioso para convencer aqueles que querem ser enganados, parem de revestir a verdade com mentiras descaradas, parem é difícil?
Parem de querer crescer sem princípios, parem de querer manipular o curso natural da vida. Esta não pára, não espera por arrependimentos medíocres. Se queres vai, se não queres vai na mesma, acredita que não te vais arrepender.
Arrepende-te apenas daquilo que nunca tentaste, porque também nunca te deram essa oportunidade.
Vive, porque o amanhã pode nunca vir a acontecer.

Ana Silva

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


Sonho um dia conseguir com todas as minhas forças e de forma singela e sincera descrever a palavra Amor.
Descrevê-la e ser capaz de a compreender dentro de mim, sem equívocos, sem possíveis falhas e até mesmo sem possíveis enganos.
Amor é ter o poder de ver o outro tal como é e não como gostaríamos que ele fosse, respeitar as diferenças e abrir o nosso coração a um novo sentimento.
Deixar de pensar no dia de amanhã, viver intensamente o hoje e pensar só e apenas no momento, é termos a capacidade de deixar que o amor paire no ar e faça brilhar o arco-íris com as sua mais belas cores, deixar que ele nos abra por instantes a porta do paraíso e nos dê a oportunidade de voltar à realidade mais cruel e injusta num estalar de dedos.
Conseguir gritar sem medo ao mundo que o amor é o maior turbilhão de sentimentos que já ousamos experimentar é conseguir quebrar barreiras, é transcender a nossa realidade, mas acima de tudo enfrentar a vida e pedir-lhe paz eterna.
Viver um grande amor é partilhar emoções, é dar um carinho, é sermos sinceros sem receio da verdade, é dar as voltas ao próprio destino.
Amor é olhar nos olhos do outro e dizer num suspiro amo-te e sempre te amarei, até à eternidade. É enfrentar os nossos medos e conseguir ir noutra direção sem medo de caminhar sozinho, sem olhar para trás para não ter que dizer adeus ou simplesmente um até já.
Se tivesse que personificar o amor, personificaria e projectava a sua imagem numa bela rosa vermelha, queimada do passar do tempo e com espinhos que podem ferir se não tivermos cuidado e cautela.
O amor é assim, bonito como a rosa mas ao mesmo tempo perigoso como uma estrada vazia a pedir uma corrida a alta velocidade, onde o som das travagens é o cântico mais calmo do mundo.
Será o amor fogo que arde sem se ver?
O amor é o sentimento mais explícito do mundo, os olhares de amor são sempre denunciadores, as palavras dirigidas ao outro serão sempre palavras mais doces e os gestos são e serão sempre de doce concordância.
Conseguirei eu algum dia descrever o amor tal como é?
Conseguirei eu transmitir por palavras a magia do amor?
Um dia talvez sem pressa nem atropelamentos, um dia conseguirei.
Um dia talvez.

Ana Silva 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Momentos

A história da nossa vida faz-se de capítulos em capítulos, de momentos em momentos e até mesmo de episódios em episódios.
Um dia acordamos com todas as forças para enfrentar o mundo sem receios, no outro dia já somos pequenos fragmentos do todo que se partiu desde ontem.
Somos obrigados a ter que suportar situações menos agradáveis porque o medo do confronto directo é enorme. Porque não conseguimos pensar num amanhã liberto de assombrações, porque não conseguimos apreciar a vida tal como é: simples e curta.
A minha vida até se pode vir a tornar curta e instantânea, mas sozinha vivi momentos inesquecíveis, já ri de mim mesma, já cantei no chuveiro a alto e bom som, já dei um abraço a quem nunca esperava por isso, já disse eu gosto de ti sem ninguém me pedir, já escrevi o que sentia bem ou mal, mas já escrevi. Já chorei de dor, já chorei apenas por birra, mas já derramei lágrimas porque a vida tal como um rio passa e não volta mais. E eu mais do que ninguém tenho essa forte consciência.
Não derramo lágrimas porque passou, porque isso aceito é o curso natural da vida. Derramo sim porque todos nós perdemos tempo com coisas pequenas e mesquinhas, deixamos de lado as coisas mais importantes, como respirar e sentir o vento a tocar a nossa alma, deixar que o sol nos indique o caminho.
Eu sei que para muitos isto não passa de uma triste filosofia de vida, até pode ser, não condeno quem pense desta forma, mas sempre posso lamentar o seu pensamento.
Quem nunca tentou, quem nunca batalhou nunca saberá interpretar estas palavras, nunca saberá compreender o verdadeiro significado de todas estas ideias.
O dia a dia muitas vezes é como uma orquestra desafinada, nem todos tocam na mesma hora nem no mesmo compasso. Mas saberemos nós sermos os maestros da nossa própria orquestra?
Por vezes esta pode ser uma tarefa um quanto ao tanto difícil, mas com compreensão e calma lá chegaremos.
É certo que lá chegaremos.

Ana Silva

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


Todos somos a diferença
















Eu olho para ele e sinto-me completa.
Eu olho para ele e amo-o não por ele ser diferente, mas sim por ser único e especial.
Não sinto pena, não desvio o meu olhar, não desdenho e acima de tudo não sinto medo.
Fixo-me nos seus olhos e consigo sentir o seu amor, o seu carinho, a sua forma delicada de ver o mundo à sua maneira, acima de tudo a sua capacidade de moldar o mundo à sua forma e semelhança.
Não espera que o mundo o abrace, porque simplesmente ele já o abraçou desde que nasceu.
Gostava que o mundo compreende-se de vez a falta que eles nos fazem, eles ensinam-nos a viver de forma simples, mostram-se como um pequeno gesto, como um abraço ou um beijo pode mudar a nossa vida até mesmo o nosso mundo.
Entender a sua forma de estar, compreender a sua própria linguagem, impulsioná-los na rampa de lançamento que é a vida devia ser uma obrigação de todos nós.
Vivemos imbuídos de tal forma na nossa própria vida, vivemos para nós e para as nossas coisas, que nos esquecemos que para além da nossa visão existe um mundo que espera por nós, pela nossa bondade de ajudar o próximo e pela nossa dedicação.
Prefiro acreditar com todas as minhas forças que o mundo se encontra em mudança e que as diferenças vão deixar de ser um monstro nas consciências das pessoas.
Não vejo nenhum entrave nem imposição constante destas crianças na minha vida, na minha rotina nem na minha forma de estar.
Não tenho em mim o direito de fazer na primeira pessoa, não tenho o direito de ser porta voz de quem vive esta realidade todos os dias e sente-se bem e feliz com isso, não tenho o direito de julgar, porque também erro como qualquer outro ser humano, não fosse o erro inerente à condição humana.
Quero apenas ser um pouco melhor, quero amá-los sem condições, quero poder privar com eles e com tudo que eles me possam dar, quero ser para eles um pouco daquilo que o céu é para as nuvens.
Quero complementar-me para os fazer um pouco mais felizes porque simplesmente o merecem.
O mundo é grande o suficiente para estarmos todos juntos, sem restrições, sem maldades e sem discriminação cruel e dolorosa.

Ana Silva 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013















Carta aberta ao mundo, seja ele a cores ou a preto e branco

O mundo não pára, não espera por indefinições de quem quer mas se calhar não consegue. O mundo gira sem saber o porquê, mas mesmo assim todos os dias o faz no mesmo compasso e na mesma velocidade.
Eu vejo um mundo a cores, mas ao mesmo tempo também consigo ver um mundo a preto e branco. Consigo e tenho a capacidade de viver nesse mundo, onde todos temos um lugar, onde todos temos uma finalidade e onde todos construímos um só.
Nascemos porque todos nós temos um destino traçado, somos pequenas peças num puzzle gigante.
A certa altura crescemos e começamos a moldar o mundo à nossa forma, vemos e deduzimos as coisas à nossa própria maneira, porque iniciamos o processo de formação da nossa personalidade.
E o mundo continua a girar sem parar, sem saber o porquê, sem saber para que finalidade, mas continua sem hesitações.
Crescemos, marcamos as nossas posições, dizemos palavras certeiras e outras menos certeiras, zangámo-nos umas vezes com razão outras vezes sem motivo aparente, rimo-nos em momentos entusiasmantes, somos e fazemos os outros felizes.
E lá continua o mundo na mesma situação, gira, gira, gira e não sabe porquê. Mas continua firme e não olha sequer um minuto para trás, traça o seu único caminho que é o horizonte.
Quantas vezes já esperamos, quantas vezes já fizemos esperar, quantas vezes já caímos, quantas vezes já fizemos cair. Mas dia após dia continuamos a remar contra e a favor da maré.
Tal como o mundo quero continuar a minha grande batalha. Não me questiono, não fraquejo, não olho para trás e nunca vou parar.
E o mundo nunca pára. E o mundo gira sem saber o porquê.
E o que importa? Ele gira e sempre girará.

Ana Silva

sábado, 12 de janeiro de 2013


Eis aqui um pequeno conto sobre as desigualdades sociais. Porque eu acredito que todos somos iguais, porque todos devemos ter as mesmas oportunidades, porque todos somos iguais mesmo pensando e sentindo de diversas maneiras. Eu essencialmente deixo que o sonho comande a minha vida.....

Hoje tive um sonho, sonhei que nasci noutro corpo e noutra cultura. Sonhei e por momentos entrei numa realidade fantástica onde fui livre e feliz como um pássaro. Nesse sonho, vivi num mundo sem preconceitos, sem mesquinhices e sem olhares medíocres. Olhares que olham com pena, com dó e com repulsa.
Nasci no ano de 1987, mais precisamente em Março. Sou um rapaz como outro qualquer, tenho sonhos, idealizo o meu futuro e luto para conquistar pequenas e grandes coisas na minha vida, apenas um factor diferencia-me de todos os outros, o facto de ser de etnia cigana. É verdade sou cigano, sou moreno e tenho a minha própria personalidade, extremamente forte e muito demarcada. Desde pequeno habituei-me à ideia de ser olhado de lado por todos, porque desconfiavam de mim e das minhas atitudes, o simples facto de respirar para muitos já era motivo de medo e desconfiança.
Cresci num ambiente familiar característico das famílias ciganas, com todo o amor e compreensão de quem se ama, aprendi a respeitar os nossos costumes, as nossas aspirações e as nossas crenças, por vezes, preferi construir e seguir o meu próprio caminho, sem medo de ser julgado e condenado por uma sociedade medíocre que por mais que diga que não, leva a mão ao coração e por trás julgam, condenam e excluem sem medida.
Mas preferi tentar mostrar ao mundo que mesmo sendo cigano e sendo supostamente diferente, conseguia criar laços de amizade, ter amigos e acompanhá-los. Mas como a vida não é um mar de rosas e nem sempre o querer é poder, tive muita dificuldade em integrar-me com os outros no meu percurso escolar, sempre frequentei a escola, os meus pais sempre cultivaram em mim a vontade de querer chegar mais longe, a vontade de querer vencer os meus próprios limites e quebrar barreiras. Acabei o secundário com uma média muito boa, e consegui para surpresa de todos entrar em Medicina na Universidade do Minho. Foi difícil para os meus pais e até para muitos elementos da minha família aceitar a minha partida de Lisboa para Braga. Os meus pais sempre me protegeram de todas as acções externas, mas chegara o momento de tomar as próprias rédeas da minha vida e partir em busca de novos conhecimentos, de novos horizontes. E assim foi, os dias seguintes foram stressantes em busca de um apartamento onde ficar, os problemas foram muitos, não fosse eu cigano claro e isso não estivesse estampado na minha cara. Para mim é um orgulho, correr nas minhas veias sangue cigano, nunca cometi um crime, nunca roubei, nunca prejudiquei ninguém, mas toda a gente de excluí.
No entanto, conseguimos arranjar uma casa, pequena mas muito acolhedora, não era o único habitante, tinha como companheiros um rapaz e uma rapariga de quem não tinha conhecimento nenhum, mas sabia que ambos tinham conhecimento da minha existência. O momento de partida dos pais, foi para mim muito doloroso, senti que iria começar uma linha ténue entre nós, pois iria estar mais tempo em Braga do que em Lisboa. Nesse momento, muitas foram as imagens que passaram na minha cabeça, a uma velocidade tanta que fiquei tonto. Imagens da minha infância e do pé descalço a sentir o poder da terra. Enfim, chegou o momento é hora de assumir as minhas escolhas.
No dia seguinte, apresentei-me de imediato nas aulas e a todos os meus colegas, os primeiros olhares foram denunciadores, mas continuei a longa caminhada, fui dispensado das praxes, sob o motivo de ter mais tempo para estudar, tretas e mais tretas, têm medo de mim e preferem a minha distância.
Não os condeno, porque estaria a fazer exactamente o mesmo que me fazem a mim, prefiro alimentar a minha forma de ser e de estar, calmo e tranquilo com a minha própria existência.
Cansado de mais um dia, regressei a casa e mal abri a porta deparei-me com o meu colega do apartamento, o Nuno, que para meu espanto se apresentou normalmente e sem receios, senti de imediato a sua sinceridade, nem que fosse por momentos, pois estava mesmo de saída. Fiquei feliz e ao mesmo tempo confuso e pensei para mim próprio:
- Será que vou conseguir ter um amigo?
Ao mesmo tempo que profiro este pensamento sonoro, ouvi uma resposta muito suave e meiga:
- E porque não? Porque motivo não poderão ser amigos?
Fiquei extasiado, o meu cérebro debatia-se com os inúmeros pensamentos que floresciam do nada. Virei-me lentamente, e vi-a, nunca vi beleza tamanha numa só pessoa, cabelos loiros, como o reluzir do ouro, branca como a neve e olhos cor de mar e profundeza. Comecei a tremer e as palavras não saíam, fiquei parado a admirar tal escultura viva. Passados alguns instantes consegui vencer as minhas fraquezas e respondi:
 - Porque sou cigano não vês?
 E depois respondeu ela sem medo e sem hesitações:
- Só porque és cigano, não tens sentimentos e vontades genuínas.
Para mim, o mundo acabou naquele exacto momento, em vinte e cinco anos nunca ouvi da boca de ninguém, palavras tão sinceras e tão bonitas. Isto não poderia de todo estar a acontecer, não era o curso natural dos acontecimentos, talvez me tivesse habituado à ideia de viver sozinho e no meu mundo ou então casar com uma rapariga cigana de catorze anos e ter uma carrada de filhos.
Chama-se Matilde e tem dezoito anos, entrou no curso de Psicologia, uma pérola perdida. Os dias seguintes foram de nervosismo miudinho, sempre na esperança de a encontrar pela casa a vaguear. Numa manhã, linda e cheia de sol apareceu a Matilde cheia de vida e de cor, parecia o arco-íris, olhou-me fixamente e disse:
- Esta tarde, queres passear comigo e conhecer um pouco melhor a cidade de Braga.            
Não hesitei e apressadamente respondi:
- Claro que sim, seria para mim um enorme gosto. E assim foi, passeamos pela cidade na companhia um do outro, cada vez mais me sentia invadido por sensações brutescas, o facto de conhecer Braga com todas as suas qualidades e potencialidades, cada recanto de Braga tem uma história para contar. É sem dúvida a cidade das mil maravilhas, sons, cheiros, cores, movimentos, tudo parece perfeito, as pessoas passam e olham curiosas para ambos. Confesso que nada me espantava, até porque para espantado chegava a minha própria pessoa, nunca pensei em passar por tal situação, estar com uma pessoa, viver com ela bons momentos e sorrir como se o amanhã não existisse, queria com todas as minhas forças perpetuar aquele momento cheio de magia.
A caminhada tornava-se cada vez mais empolgante, a Matilde falava com uma naturalidade de quem nunca sentiu nem fez ninguém sentir a descriminação de se ser diferente, iguais mas diferentes. Ao seu pé sentia-me forte e feliz, para ser sincero não ouvia a suas palavras com a máxima atenção, apenas apreciava a sua forma delicada de tratar as pessoas e de conversar com elas, os seus gestos delicados e as suas expressões de cordialidade e confiança. No fundo sabia que ambos sentiam algo de diferente um pelo outro, mas o que poderia atrair a Matilde em mim? Perguntas e mais perguntas, interrogações sem fim, e as pessoas continuavam a olhar discretamente, como se estivesse a transgredir alguma regra, mas o mais surpreendente é que a Matilde não temia um momento, não mostrava um momento de fraqueza e segura seguia o seu caminho.
Cansados de andar, parámos um pouco no jardim de Santa Bárbara, uma beleza rara que nunca tinha visto em lado nenhum, por momentos conseguia confundir a cor das flores com a cor do olhar da Matilde. Sentámo-nos e continuamos a conversar, contei um pouco da minha vida e ela contou um pouco da sua, confidências de anos, histórias caricatas, momentos desesperadores. Enfim, senti na Matilde um porto de abrigo, uma montanha escalada, um mergulho profundo, um voo alucinante e uma queda serena e tranquila. Se tivesse que descrever a Matilde, descreveria com certeza o pôr-do-sol na praia, tranquilo, perfeito e verdadeiramente inspirador.
Pela primeira vez na minha vida ganhei coragem e desafiando os meus próprios limites beijei a Matilde, não podia deixar fugir aquele momento, era raro demais para isso, era agora ou nunca. Nessa altura, transportei-me para outra dimensão, o coração ficou acelerado e tudo permaneceu parado e intacto.
Este cigano moreno e de olhos pretos, realizou um dos seus maiores desejos, dar-se a conhecer tal como é, sem máscaras e sem sombras, sem mentiras e sem medos. Este cigano sentiu a sensação de um beijo sincero e quente.
            Passados poucos instantes, ouvi de longe uma voz a chamar pelo meu nome, era a minha mãe a acordar-me daquele sonho fantástico e enternecedor, como pedi para não acordar, como pedi para aquele sonho ser realidade, como pedi Meu Deus, como pedi para ser igual e amado.
            Mas a verdade é que nada passou de um sonho, terei de acordar e enfrentar mais um dia de luta, mais um dia como todos os outros, sem nada de novo e sem a Matilde.
            Sonhei, mas fui feliz por alguns momentos.
Sou cigano, sou moreno e tenho olhos escuros como azeitonas.
Sou eu, porque sou cigano e um dia vou ter contigo Matilde.

 Ana Silva 


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


Amor

Eis a palavra mais utilizada na boca da maioria das pessoas. Mas saberão estas o verdadeiro significado desta palavra?
Amor, é sentir que o hoje é importante demais para o desperdiçar, porque o amanhã vai ser mais curto para te sussurrar ao ouvido.
Amor, é querer que o relógio pare para eternizar aquele momento, porque sabes que o depois é sempre uma incógnita.
Amor, é respeitar o outro tal como é, com os seus erros, com as suas falhas, com as suas palavras e com as suas alegrias.
Amor, é chorar porque se sente dor, é chorar de alegria e chorar porque não se sabe se é o suficiente para estarmos bem.
Amor, é suspirar sem saber bem o porquê. Amor é perdoar mesmo quando não há perdão possível.
Amor, é apagar as frases dos outros e acreditar apenas na verdade do outro.
Amor, é estar cego e ao mesmo tempo ver tudo como um grande clarão
Amor, é sofrer mesmo quando não há motivo aparente para tal
Amor, é fugir das nossas próprias dúvidas mesmo quando estas são verdadeiras
Amor, é querer viver o amanhã só com medo de nunca mais te ver
Amor, é acreditar que a vida é muito mais do que o eu
Amor, é sentir que tu vais estar comigo para sempre ou então o tempo suficiente para te amar
Amor, é desilusão, é paixão, é tudo e o mais tudo
Amor, és tu e sou eu
Amor, é ser feliz de coração enão acreditar que queremos ser felizes
Amor, é sorrir com o coração e não com a razão
Amor, é aquilo que todos os dias sem excepção sinto por ti
Amor, é pedir para que a morte chegue em primeiro lugar ao pé de mim
Amor, és tu e sou eu
Amor, é a perpetuar este sentimento para sempre
Amor, é acreditar que os anjos voam por cima de nós
Amor, palavras para quê
Amor, és tu e sou eu
Ponto final 

Ana Silva